sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

INTERTEXTUALIDADE

A BENZEDEIRA
Naquela manhã fria, Jurema estava determinada a procurar uma benzedeira para consultá-la a respeito do futuro de seu casamento, de sua situação financeira futuramente.
Chegando lá, a mulher mandou-a sentar e com uma voz misteriosa disse:
_ Vejo que acontecerá alguma tragédia no casamento de vocês.
Horrorizada, Jurema paga algum dinheiro pela consulta, saiu correndo daquele lugar horrível e não escuta mais nada do que a mulher continua falando.
Enquanto caminhava pela estrada molhada e barrenta, refletia sobre o que a benzedeira lhe dissera e preferiu acreditar no que o marido sempre falava quando se tocava nesse assunto: “essa gente só quer nosso dinheiro.”
Chegou a casa, contou ao marido o que havia feito e ele saiu da sala dando risada da preocupação absurda da mulher e lhe avisou que naquela noite receberiam alguns amigos para jogarem cartas.
A garoa fina e o frio intenso atingiam agressivamente os rostos dos homens que seguiam até a casa de Bernardo e Jurema para o tradicional jogo de baralho ou como diziam eles jogo de cartas. O vinho e o fogo na lareira já os esperavam.
Sentaram-se à mesa para o início dos jogos. A conversa era muito animada e regada a vinho, que era servido por Jurema, que se dirigia à mesa somente para servi-los. Enquanto servia as taças com o vinho que era fabricado ali mesmo, percebeu que Mauro era um homem lindo, forte e muito simpático. Aquilo mexeu com seus sentimentos e ela começou a se insinuar para ele, lançando-lhe olhares maliciosos e sedutores.
Mauro logo percebeu esse comportamento estranho da mulher de seu melhor amigo, e, por sua vez, ficara sem jeito. Um fogo delirante perpassou por todo o seu corpo e já não estava conseguindo esconder o desejo de ter aquela mulher em seus braços. Vendo que a situação poderia fugir de seu controle, resolveu ir embora. Sem despedidas e nem muitas explicações saiu dali.
Resolveu que iria evitar as visitas à casa de Bernardo para não encontrar com Jurema novamente. Mesmo agindo dessa forma, não conseguia esquecê-la.
Jurema fazia qualquer coisa para vê-lo novamente, mas ele a evitava ao máximo. O silêncio, depois daquele jogo de baralho, prevaleceu e a mulher não conseguia encontrar Mauro.
Passados vários meses, em um lindo domingo de sol, Bernardo e Jurema foram à missa na igreja local. Chegando lá, uma grande surpresa, Mauro estava ali, acompanhado por sua e por seus filhos. Uma emoção contagiou Jurema que disse a Bernardo:
_ Olhe, lá está Mauro e sua família. Há quanto tempo que não o vemos. Vamos conversar com eles. Ao se aproximarem, Mauro baixou a cabeça e ficou desconsertado com a situação.
_  Amigo, disse Bernardo, quanto tempo que não o via! Como tem passado?
Mauro então respondeu:
_ Tudo bem, Bernardo. Tinha muito serviço e, por isso, precisei me afastar dos jogos. Enquanto eles falavam, as mulheres estavam conversando e Jurema, vez ou outra, olhava para ele. Em um desses olhares, fez sinal para ele para se encontrarem em um pequeno matinho que existia ali perto. Mauro assentiu com a cabeça e retirou-se dali, acompanhado pela esposa e pelos filhos.
O sino tocou, chamando os fiéis para dentro da igreja. As mulheres puxaram seus lenços sobre o rosto e entraram no templo. Passados alguns minutos, Jurema disse ao marido:
_ “Amore mio”, vou ao banheiro,  pois estou com um pouco de dor de barriga. Se eu demorar não se preocupe
_ Está certo.
Mauro viu que Jurema saiu da igreja e disse à esposa:
_ Está muito abafado aqui dentro. Preciso ficar um pouco lá fora.
_ Tudo bem. Respondeu ela.
Jurema já o esperava no matinho completamente sem roupa e Mauro abraçou-a e beijou-a loucamente. Os dois estavam apaixonados e não sabiam como iam esconder tamanho sentimento. Combinaram se encontrar todos os dias depois do meio-dia na cachoeira. Mauro disse a ela:
_ O que vamos fazer?
_ Não sei, disse Jurema. Só sei que quero ficar com você.
Rapidamente se vestiram e retornaram à igreja para a missa. Depois desse encontro, tudo tinha ficado diferente, mas era preciso agir com naturalidade.
Como o verão havia chegado, Jurema pensava que ninguém iria desconfiar de seus encontros amorosos com Mauro na cachoeira. Mal sabia ela que a fofoca no lugar onde morava já corria  pois, naquele domingo, uma das papa-hóstias que estava na igreja, viu quando os dois combinaram o encontro e como se olhavam e tratou de espalhar o fato, dizendo para a mulher que estava ao seu lado:
_ “Madona mia”, Jurema está se assanhando para outro homem. Isso é uma vergonha!
Essa conversa espalhou-se rapidamente, como se fosse um estupim  e, em poucos dias, todos comentavam o assunto. Depois de alguns dias, Bernardo também ficou sabendo do caso. Por isso, ele passou a observar o comportamento da esposa. Inicialmente não notara nada de estranho. Observou apenas que todos os dias ela ia  até a cachoeira para se banhar, hábito  não muito comum a ela, pois não gostava de tomar banho em rios.
Quando retornava da cachoeira, Jurema cantarolava e notava-se em seu semblante uma estranha felicidade, a qual despertou em Bernardo muita raiva e o desejo de vingar-se dos dois.
O dia estava ensolarado. O calor era demais e Bernardo estava determinado a acabar com o romance entre seu amigo e sua esposa. Arrumou a espingarda e colocou-a embaixo da cama, aguardando o momento em que a esposa iria ao encontro do outro.
Eram aproximadamente catorze horas e Jurema disse ao marido:
_ ”Amore mio”, vou à cachoeira banhar-me. Este calor está de matar!
_ Tudo bem, respondeu ele.
Mal ela afastou-se do pátio da casa, Bernardo foi ao quarto, possuído pelo ódio, pegou a espingarda e saiu atrás dos traidores.
Chegando lá, ficou escondido atrás de uns arbustos e observou a troca de carícias entre os dois, a maneira como se tocavam e o ardor com que se beijavam. Sua ira aumentava cada vez mais e quando os dois já estavam desnudos, Bernardo saiu de seu esconderijo e apontando a arma para os dois disse:
_ “Porco Dio”, seus traidores de uma figa. Hoje eu termino com vocês dois. E sem deixar qualquer um dos dois se manifestar disparou dois tiros a queima-roupa e matou os dois.
Bernardo sentia-se satisfeito, saiu dali e foi até a igreja para cuidar dos preparativos para o enterro.
Durante o velório, ouvia-se as pessoas dizerem:
_ Bem feito! Pulou a cerca e agora está dentro do caixão.
Bernardo olhava para a defunta com desprezo. Durante a missa de corpo presente, ele recordou o que a mulher lhe dissera na ocasião em que fora consultar a benzedeira:
_ “O fim do nosso casamento será trágico”. Naquela oportunidade, Bernardo achara engraçadas as palavras da mulher, pois eles eram um casal feliz, mas agora se dera conta de que tudo era verdade.
Após a missa, a procissão seguiu até o cemitério e algumas pessoas diziam:
_ Uma adúltera, uma adúltera...
Palavras que ficaram para sempre guardadas na cabeça de Bernardo.
Quanto ao enterro de Mauro, sua esposa e seus filhos cuidaram  de tudo, depois sumiram e nunca mais apareceram naquele lugar.                                                                                                                  
Bernardo pôs as mãos no bolso e no caminho do retorno para casa ia pensando em tudo que tinha acontecido e, para se consolar, lembrou de uma frase que tinha ouvido há muito tempo: “É melhor abraçar os espinhos da verdade que as rosas da ilusão”.
TRABALHO POSTADO POR VANDERLÉIA E LUCINEIDE
DATA: 07\01\11

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